“Não admito que Vossa Excelência suponha que todos aqui somos
salafrários e que só Vossa Excelência é vestal”, disse Marco Aurélio a
Barbosa
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Marco Aurélio e Barbosa discutem em plenário. Foto: André Coelho. |
da Agência Brasil
O clima entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) voltou a
ficar tenso hoje (7) na retomada do julgamento da Ação Penal 470, o
processo do mensalão. Logo no início da sessão, o relator do processo,
Joaquim Barbosa, e o ministro Marco Aurélio Mello protagonizaram uma
discussão acalorada no plenário.
O desentendimento começou quando Marco Aurélio argumentava que a
Corte tinha que decidir questões técnicas antes de prosseguir com a
fixação das penas dos réus. Uma dessas questões é a possibilidade de
considerar que alguns crimes ocorreram em continuidade e devem ser
considerados como um só, com pena menor. A outra é a impossibilidade de o
réu, com posição de comando na organização criminosa, ter a pena
agravada duas vezes por esse motivo.
Barbosa sugeriu, então, que as penas somente são grandes porque os
réus cometeram muitos crimes, o que irritou Marco Aurélio. “Meça suas
palavras quando eu estiver votando”, disse Marco Aurélio. Barbosa riu,
irritando ainda mais o colega. “Não ria que isso é um assunto muito
sério. O deboche não cabe mais, estamos no Supremo Tribunal Federal. As
adjetivações são supertraiçoeiras,” continuou Marco Aurélio.
Barbosa respondeu que não fez nada além de traduzir a realidade que
está nos autos, e Marco Aurélio rebateu. “Não admito que Vossa
Excelência suponha que todos aqui somos salafrários e que só Vossa
Excelência é vestal. Precisamos acima de tudo admitir a dissidência”.
Mais uma vez, a discussão só foi encerrada após intervenção do
presidente Carlos Ayres Britto, dando prosseguimento ás discussões
técnicas do julgamento.